sexta-feira, 27 de novembro de 2015

VIDA E MORTE NA AMAZÔNIA



fonte brasilescola.uol.com.br

Devido às características naturais do território brasileiro, o assalto à sua natureza sempre permeou sua história, seja ela pré ou pós-colombiana. Nos cinco séculos de povoamento do Brasil, a história pôde vislumbrar a exploração e o quase aniquilamento de uma das mais, ou senão a mais, imponente e diversa floresta do mundo, a Mata Atlântica.
Chegado o século XX, especialmente depois da década de 1970, com o surgimento de preocupações ambientais e do movimento ambientalista em diversos lugares do mundo, de pesquisas cada vez mais abundantes que relacionam a depredação do meio ambiente pelo homem, e suas conseqüências catastróficas no presente, e quem sabe, para o futuro, nem por isso deixou-se de fazer uma exploração sistemática e depredativa da natureza, especialmente no Brasil.
Chega às casas literárias neste mês, o livro de Pedro Martinelli sobre a Amazônia, Gente x Mato, que é um amargo retrato fotografado desta região, e também um recado para o futuro de nossa sociedade.
Martinelli vive na região amazônica desde que tinha 20 anos de idade (hoje têm 58), viajou o mundo fotografando desde mulheres exuberantes a Copas do mundo de futebol, mas sempre volta à Amazônia. Sua fotografia exibe uma Amazônia sem filtros e desnuda a realidade que está em seu foco, desde o índio com pinturas simbolizando a camisa do Vasco da Gama, clube de futebol fluminense, até o desmatamento desenfreado. Seu relato à revista Veja (12 de novembro de 2008) nos remete aos relatos e crônicas dos viajantes europeus do século XVIII e XIX que cruzaram os sertões das Províncias (agora Estados) de São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e tantos outros, só que com a diferença da tecnologia moderna.
Nos seus relatos, diz esse autor, que antigamente o madeireiro ia à procura de árvores exóticas e valorizadas no mercado, meio que amadoramente, quando ouvia ou avistava uma área que tinha muita madeira nobre, colocava 20 ou 30 caboclos dentro da floresta a fazer uma espécie de inventário, de onde se extraia a localização meio imprecisa da quantidade de árvores e se essa região seria economicamente explorável. Hoje, o processo é muito mais rápido e eficiente (o que também atrapalha os planos de fiscalização), o madeireiro espera a florada de “suas” árvores em potencial, por exemplo, o mogno, sobrevoa a região e, guiado sempre por essa florada, vai demarcando em seu GPS a localização destas árvores. Então segue a colocar tratores no barco rumo aos lugares demarcados, onde em seguida o trator adentra na floresta e “arranca tudo numa noite”, segundo ele.
Em outro relato, diz que na região amazônica existem televisores movidos quase que literalmente a tartaruga. Para mover seus geradores, os moradores da região trocam tartarugas (bem como outras caças) por óleo diesel, ao custo de uma tartaruga por litro de óleo, onde duras horas a assistir um programa dominical consomem um litro de óleo, ou seja, uma tartaruga.
Sua constatação é realista e choca pelo grau dessa realidade, pois, na cidade, no “mundo civilizado” é muito bonito, e até está na moda, ficar exclamando discursos prol meio ambiente, falar em sustentabilidade. Mas onde estão os reflexos disso tudo na realidade amazônica? Essa é uma grande questão a se pensar. Vamos “esquentar” a cabeça?
Por Amilson Barbosa Henriques
Colunista Brasil Escola
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
RODRIGUES, Lana Julia. "Vida e Morte na Amazônia "; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/historiab/vida-morte-na-amazonia.htm>. Acesso em 27 de novembro de 2015.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

AULA DE POLÍTICA E CIDADANIA NAS ESCOLAS OCUPADAS

25/11/2015 - Copyleft

Aula de Política e Cidadania nas Escolas Ocupadas

Apesar da péssima qualidade do ensino a que são diariamente acometidos, esses jovens estão nos ensinando a responsabilidade que temos na política.


Isabela Cristina Coev Hornos*
Roberto Parizotti / Secom CUT
Há alguns dias, várias escolas públicas estaduais de São Paulo estão sendo ocupadas por estudantes que são contra a política de “Reorganização Escolar” realizada pelo governador Geraldo Alckmin.

A chamada “reorganização”, sob o pretexto de organizar alunos e alunas em ciclos de estudos e faixas etárias, está fechando mais de 94 escolas da rede estadual, além de transferir vários estudantes de suas escolas atuais. Na realidade, não passa de uma estratégia descarada de corte de gastos públicos onde mais deveria existir investimento: EDUCAÇÃO. Tanto é assim, que a maior parte das escolas fechadas na região metropolitana de São Paulo seguem o modelo defendido pelo governo e estão sendo fechadas da mesma forma.

Não é segredo que grande parte das Escolas Estaduais estão abandonadas, sem infraestrutura básica de saneamento, iluminação, material didático, etc. A maioria das escolas não têm água potável, não têm bibliotecas, não têm computadores, não têm laboratórios, não têm mapas, não têm materiais de artes e educação física, não têm funcionários para limpeza (que muitas vezes fica por conta dos próprios alunos nas chamadas “aulas vagas”), não têm sabão e papel higiênico nos banheiros, algumas não têm vidros nas janelas (quando chove, não tem aula), não têm ventiladores, não têm giz (que fica a cargo dos professores comprarem ou da Associação de Pais e Mestres doarem).

Em grande parte das escolas as salas de aula são abarrotadas de alunos, que ficam trancafiados por portas metálicas ou grades que os impedem de chegar inclusive até os banheiros. Os pátios são sujos. Muito sujos! Não há quem limpe. Devem ficar meses ou até anos sem que alguém os lave com água e sabão. Os professores não conseguem ensinar. Não existe um ambiente para educar. Existe concreto, muito concreto. Grades. Muitos alunos. Muito calor. Muita irritação e hostilidade. Este é o dia a dia de milhões de alunos e alunas da rede pública do estado de São Paulo.

Para um estudante de escola pública, “estar na escola” não é sinônimo de segurança e crescimento, mas o reflexo nítido do enraizamento da cultura governamental do desprezo, da invisibilidade, da desvalorização e da mutilação intelectual do jovem pobre.

Há anos não há investimento em educação. Não há atenção do governo para crianças e adolescentes do ensino público. Estes jovens estão sendo marginalizados dentro do ambiente escolar. Estão sendo negligenciados pelo próprio Estado e violados em seus direitos e garantias fundamentais.

Ainda é dever do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com PRIORIDADE ABSOLUTA, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, conforme prevê o artigo 227 de nossa Constituição.

Porém, com a “reorganização”, o governo prioriza o corte de gastos à formação destes jovens e garantia de seus direitos básicos. Ao invés de investir nas escolas, encerrará as suas atividades: estudantes serão aglomerados em salas já abarrotadas; professores ficarão ainda mais sobrecarregados em suas árduas tarefas; vínculos sociais e etapas educacionais serão rompidas com a transferência dos alunos e fechamento das escolas. Até mesmo irmãos que atualmente estudam juntos, ficarão em escolas separadas em função do "ciclo único".

Apesar da política impetuosa do sr. Governador que há anos boicota jovens pobres e despreza completamente os direitos e a dignidade dos estudantes das escolas públicas, apesar do menosprezo do Estado pela capacidade dos estudantes de reivindicar seus direitos e de lutar democraticamente por seus ideais, a “Reorganização Escolar” não passou silenciosa por todos e todas que foram considerados “marginais”.

Hoje, somam-se pelo menos 150 escolas ocupadas. Ser contra a “reorganização” é reivindicar ensino e escola de qualidade. É exigir ser tratado como gente – e com dignidade!

A ocupação das escolas é um ato político de resistência a um plano governamental que fere direitos humanos. É uma luta consciente e cidadã, é um clamor por direitos fundamentais básicos que estão sendo há muito tempo desrespeitados pelo Estado.

Não há como tirar mais nada daqueles a quem nenhuma oportunidade foi dada. Não tirem suas escolas, as reformem. Não tirem seus professores, deem a eles materiais didáticos e condições de ensino. Não tirem seu núcleo afetivo de convívio, abram diálogo com a comunidade. Criem ambientes dignos de serem chamados de escolas. Deem a oportunidade da emancipação do ser humano: a educação. Não tem um estudante sequer pedindo algo diferente disso.

Apesar da péssima qualidade do ensino a que são diariamente acometidos, esses jovens estão nos ensinando a responsabilidade participativa que temos na política. Estão nos lembrando que estudantes de escola pública não são invisíveis, e que o futuro deles não será definido por políticas arbitrarárias de um governo desumano. Estão, também, explicitanto ao governo e à toda sociedade que tampouco serão renegados, ignorados e marginalizados por mais tempo.

Estão ganhando espaço e visibilidade e, obviamente, estão incomodando. O governo não está preparado para 4 milhões de jovens articulados politicamente. Seu plano era prepará-los para a subvida, para o subemprego, para o subdesenvolvimento, treinando-os desde crianças em escolas que mais parecem presídios. Por isso, para eles, o governo manda a polícia, a ameaça, a violência. É cíclico e notório. Deixaremos a eles este fado?

Quem fecha escola em nome de "reorganização" não está do lado da educação, mas da falácia política, do sucateamento do ensino público. Apoiar a ocupação também é preciso. Sustentar a luta dos estudantes é um ato de cidadania, de respeito pelo direito do próximo. É se importar com o ensino público de qualidade. É demonstrar interesse na participação política. É ter consciência coletiva. E é, acima de tudo, proteger o jovem, e assegurar um futuro digno a milhares de crianças e adolescentes.

OCUPAR É PRECISO!

*Isabela Cristina Coev Hornos é advogada e ativista de Direitos Humanos

fonte http://cartamaior.com.br/

DIREITO DE RESPOSTA

ISTO É

ABI questiona no Supremo lei do direito de 

resposta


"A Constituição da República, ao garantir o direito de resposta proporcional ao agravo, também deve garantir o direito de se opor nos mesmos prazos e condições", questiona a associação de imprensa

Estadão Conteúdo
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A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) Ação Direta de Inconstitucionalidade, com pedido de liminar, em que questiona a lei que regulamenta o direito de resposta. O ministro Dias Toffoli é o relator da ação.

A Lei Federal 13.188/2015 estabelece o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social. As informações foram divulgadas pelo site do STF na quarta-feira, 25.

A ABI afirma que regras da antiga Lei de Imprensa foram revitalizadas na nova legislação "com indisfarçadas alterações de texto", entre elas a fixação do "exíguo prazo de 24 horas" para o ofensor se retratar. Para a entidade, não se pode admitir a reutilização de trechos de lei declarada, pelo STF, como não recepcionada pela Constituição de 1988.

"A lei desconhece o princípio da ampla defesa e do contraditório ao não dar oportunidade ao suposto ofensor, em prazos e formas iguais, a comprovação da inexistência de ofensa", alega a ABI. "A Constituição da República, ao garantir o direito de resposta proporcional ao agravo, também deve garantir o direito de se opor nos mesmos prazos e condições".

Segundo a ABI, a lei atenta contra a liberdade de imprensa e de expressão e ofende os princípios da ampla defesa, do contraditório, da igualdade das partes, do devido processo legal e do juiz natural. A ação sustenta que a norma questionada se baseou na antiga Lei de Imprensa, declarada incompatível com a Constituição Federal pelo Supremo, em 2009, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130, e ressalta que alguns trechos foram copiados quase na íntegra na Lei 13.188/2015.

Ainda de acordo com a ABI, a norma exibe flagrante desequilíbrio entre as partes, infringindo tanto a Constituição quanto o atual Código de Processo Civil "e o novo que entrará em vigor em 2016", e traz inovações conflitantes com as normas processuais, como a regra que prevê a necessidade de que um colegiado recursal aprecie pedido de suspensão de decisão judicial.

A ABI pede a concessão de liminar para suspender a eficácia da lei impugnada. No mérito, requer que seja declarada a inconstitucionalidade da norma em sua totalidade ou, alternativamente, dos artigos 2º, parágrafo 3º; 5º, parágrafo 1º; 6º, incisos I e II; e 10.

FONTE www.istoe.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Fonte Carta Captal

Você está aqui: Página Inicial Blogs Direto de São Paulo Ex-sócio de José Serra é citado na Lava Jato
Política

Operação Lava Jato

Ex-sócio de José Serra é citado na Lava Jato

Investigação aponta que Gregório Preciado teria recebido propina
por Henrique Beirangê — publicado 17/11/2015 19h05
Waldemir Barreto/Agência Senado
José Serra
Gregório Marin Preciado é casado com uma prima do senador José Serra (foto) e é apontado como operador do esquema e beneficiário de propinas



A vigésima fase da Operação Lava Jatocolocou nos holofotes um novo personagem próximo a políticos do PSDB. A investigação mostra que os repasses de 15 milhões de dólares em propina da empresa belga Astra Oil para a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, à Petrobras foram feitos por meio de um contrato de consultoria com uma companhia chamada Iberbras.
A partir da Iberbras, surge o nome de: Gregório Marin Preciado. Casado com uma prima do senador José Serra, do PSDB, ele é apontado pelo Ministério Público Federal como um outro operador do esquema e beneficiário de propinas.
De acordo com a Procuradoria, Baiano firmou um contrato entre a Iberbras e sua empresa, a Three Lions, para repassar dinheiro sujo a Preciado. A petição não dá mais detalhes por qual razão Preciado recebeu o dinheiro e porque a empresa era usada para a intermediação de propinas.
Preciado e Serra se conhecem de longa data. Ele foi membro do Conselho de Administração do extinto Banespa de 1983 a 1987, quando Serra foi secretário de Planejamento, e teve um terreno em sociedade com o senador em São Paulo.  Preciado foi alvo das CPI do Banespa por conta de supostas operações irregulares no banco.
Ele chegou a ser investigado por conta de uma dívida com o Banco do Brasil que teria sido reduzida em 73 milhões de reais, por meio de interferência de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do banco e tesoureiro do PSDB.  Preciado também fez doações de campanha a Serra, em 1994, para sua candidatura ao Senado.
Baiano conta que iniciou seus negócios na Petrobras ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, por volta do ano 2000. Nesse momento, conheceu o então diretor de energia, o atual senador Delcídio Amaral PT-MS, na época filiado ao PSDB.
Ele conta que já nessa época, havia percebido a interferência política nas nomeações da estatal. Segundo ele, já no início do governo Lula, Cerveró teria dito que seria nomeado como diretor da estatal por meio de indicação de Delcídio, já então senador pelo PT.
Segundo ele, as negociações políticas se iniciam em 2006, quando foi chamado por Cerveró para uma reunião. Neste encontro teria sido dito pelo diretor da estatal que em uma reunião com Delcídio e Silas Rondeau, então Ministro de Minas e Energia, foi acertado a necessidade de se contribuir para as campanhas dos senadores Renan Calheiros, Delcídio Amaral, e o atual deputado Jáder Barbalho. Cerca de seis milhões de dólares teriam sido pago aos políticos por conta de um contrato dos navios sondas intermediado por Baiano. Os parlamentares negam as acusações. 

Brasil é um dos países que paga menos aos professores

Fonte G1.globo.com

Brasil é um dos países que paga menos aos professores
O salário inicial dos professores, no Brasil, é um dos mais baixos entre os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, e mesmo entre os países latino-americanos, abaixo do Chile, Colômbia e México. Na pré-escola, paga-se menos da metade da média mundial. É o que mostra o mais recente relatório dos sistemas educacionais do mundo, Education At a Glance 2015.

As salas de aula brasileiras estão entre as que têm mais alunos por professor. Quanto ao preparo docente, 37% dos mestres declaram necessidade de mais formação para o uso das tecnologias, enquanto que, na média da OCDE, só 15% manifestam tal lacuna.

Baixa remuneração, excesso de alunos por turma e insegurança quanto a um importante ambiente de aprendizagem da atualidade, o tecnológico, acabam derivando no abandono da profissão. É o que nos conta o mesmo relatório: mais da metade dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental brasileiro tem menos de 40 anos de idade e apenas 15% deles tem mais do que 50. Aliás, somos o segundo colocado na lista de países com menos professores de 50 anos nesse nível de ensino. Dos que entram no magistério, poucos permanecem.

Nesse rápido olhar sobre a educação global, outro dado chama a atenção: o Brasil é um dos países que alocam maior percentual de recursos na educação, com relação ao gasto público total; mas, ainda assim, investe pouco por aluno: US$ 3.441 dólares americanos/ano, simplesmente US$ 5.876 dólares a menos do que a média da OCDE.

Ora, não há milagres. As consequências desse quadro inquietante aparecem páginas à frente, no mesmo relatório. Aumentou a quantidade de alunos formados no ensino médio, mas os índices de aprendizagem (por exemplo no PISA) seguem baixos e só 14% dessa mesma população conclui o ensino superior. Muita quantidade, pouca qualidade. Prova de que, em educação, o Brasil continua investindo menos do que deveria e ainda gasta mal, comparado com outros sistemas educacionais do mundo.

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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

BEM VINDO AO BRASIL

O Brasil é conhecido no mundo inteiro por ter um povo extremamente acolhedor. Segundo o estudo do Ministério do Turismo, a hospitalidade do brasileiro é o item mais bem avaliado pelo turista estrangeiro! Emoticon heart
Acesse o Portal do Turismo e veja íntegra da pesquisa Demanda Turística Internacional: http://bit.ly/1lv9jHt

Alunos cantam Chico Buarque contra fechamento de escolas por Alckmin (fonte Youtube)



Fonte Youtube.com




segunda-feira, 16 de novembro de 2015


Marcha das mulheres negras, a marcha que faz sentido

No dia 18 de novembro mulheres negras de todo o Brasil vão enegrecer as ruas de Brasília
por Juliana Gonçalves — publicado 16/11/2015 18h31, última modificação 16/11/2015 18h32
Protesto Mulheres contra Cunha
Mulheres negras lideraram a manifestação. Créditos: Roberto Parizotti / Secom CUT
O que a Marcha das Mulheres Negras propõe é grandioso: reunir mulheres negras, respeitando suas especificidades e diversidade em torno de uma pauta comum. Despidas de nossas correntes ideológicas; superando as diferenças geracionais, religiosas, partidárias, o que sobra? Sobra o que somos essencialmente. Antes de tudo: mulheres negras.
A Marcha das Mulheres Negras propõe um retorno à unicidade da luta negra. Na realidade, ela só cumpre verdadeiramente seu papel quando sua construção consegue superar a segmentação por vertentes, entidades e grupos tão comuns no movimento social (negro, de mulheres, etc.) que muitas vezes nos enfraquece.
Antes mesmo do dia 18 de novembro, pelo menos aqui no Estado de São Paulo, a Marcha já deixa esse legado de ter reunido diferentes mulheres, organizadas ou não, que há tempos (ou nunca) sentaram juntas em torno de um objetivo em comum.
Somos jovens, quilombolas, cotistas, feministas, cristãs, lésbicas, militantes partidárias, mulheres trans, anarquistas, bissexuais, idosas, representantes de povos tradicionais de matriz africana, trabalhadoras domésticas, sem-terra, periféricas, imigrantes e refugiadas, rurais, mães, autônomas...
A marcha criou a partir de sua mobilização, oportunidade de diálogo real entre mulheres negras, com o fortalecimento mútuo das pautas. Ou seja, permite uma construção a partir do que nos une, não o que nos separa.
Enquanto ativista do movimento de mulheres negras, para mim, esse é o principal ponto que dá sentido à marcha. Essas articulações sedimentadas neste momento trarão frutos imensuráveis para as próximas gerações de mulheres negras.
Ao localizar historicamente o que significa ter uma marcha nacional de mulheres negras na trajetória percorrida pelas nossas ancestrais, pelas nossas mais velhas em solo brasileiro, encontramos outro ponto que dá sentido à marcha que está inserida neste contexto histórico de resistência feminina negra que rememora Aqualtune, Acotirene, LuisaMahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis, Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, e tantas outras que aqui chegaram e nasceram. Dar visibilidade a essa luta histórica é fundamental para munir as novas gerações de ferramentaspara o combate ao privilégio branco que estrutura a sociedade racista que vivemos.
Por fim, a Marcha das Mulheres Negras só faz sentido se nos colocarmos enquanto força política. A marcha é reivindicatória de nossos direitos e começamos pelo primordial: queremos viver.
Os recentes dados divulgados pelo Mapa da Violência revelaram o que nós já sabíamos. As mulheres negras não fogem à lógica do genocídio do povo negro que ceifa a vida dos nossos jovens. O feminicídio no Brasil também tem cor. Houve um aumento de 54% de assassinatos de mulheres negras.
A cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. Temos três vezes mais chance de sermos estupradas do que mulheres brancas, somos as maiores vítimas de violência doméstica, as que mais padecem por conta da criminalização do aborto, sem falar na violência simbólica cotidiana, alimentada por uma mídia racista que invisibiliza a participação na sociedade de mulheres negras, indígenas, lésbicas e transexuais.
Somos 49 milhões de mulheres negras no Brasil, que a exemplo dos índices da mortalidade, temos o protagonismo negativo de encabeçar os piores índices de direitos humanos em todas as áreas: saúde, emprego, moradia, acesso à educação, etc...
Ao incorporar todas essas pautas, o evento da marcha coloca em evidencia o racismo e sexismo vivido cotidianamente por mulheres negras e demonstra que estamos nos fortalecendo politicamente.
Exigimos publicamente dos governos municipais, estaduais e federal reparação às mulheres negras em defesa de uma sociedade justa e igualitária. Onde as diferenças não se tornem fatores de desigualdade.
Eu acredito na Marcha das Mulheres Negras, no protagonismo negro. Nas minhas irmãs praticantes da filosofia ubuntu, do asè. Agora é a nossa vez. Nos próximos dias delegação de todo Brasil vão se deslocar rumo à capital federal, onde marcharemos demonstrando nossa força política e de mobilização.Vamos enegreceràs ruas de Brasília, lugar dominado pela masculinidade branca. Por enquanto.Não vão nos calar. Tendo em mente, como nos traz Audre Lorde, “que não esperavam que sobrevivêssemos”.
Sobre nossas bandeiras de luta, convido a todas as pessoas a lerem nosso manifesto, a carta de princípios e um breve recorte da luta das mulheres negras no Brasil. 
Finalizo com um poema, porque a palavra cria, òrolagbara, a palavra tem poder. Gratidão por esse espaço! 
“Somos humildes sim, entre os nossos irmãos e irmãs
A eles ubuntu, nosso àse.
Mas no hostil do mundo
Erguemos nossonariz de negra
Coluna ereta,cabeçacoroada
Porque eles fingem ignorar que viemos de uma linhagem de rainhas
Somos um povo sobrevivente
Nossoori brilha e nos protege das hienas
As mulheresnegrasestão em marcha, anunciamos
Quando uma sobe, leva a outra
Somos terra sagrada e fértil
Somos fortes por falta de escolha
Estamos em marcha
Estamos só começando...”
  
*Juliana Gonçalves é jornalista, ativista da luta antirracista, representante do CEERT no Núcleo Impulsor do Estado de SP da Marcha das Mulheres Negras.
Fonte cartacapital.com.br